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Resíduos de sardinhas em implantes ósseos e dentários

04.02.2014
  • Incentivos às Empresas , Pólos e Clusters
  • I&DT

Projeto Valorpeixe valoriza subprodutos e águas residuais da indústria de conservas de peixe, transformando-os em biodiesel, hidroxiapatite, colagénio, gelatina ou péptidos. Segundo os investigadores, é possível utilizar as escamas e espinhas das sardinhas para implantes ósseos e próteses dentárias.

Projeto "ValorPeixe"
Projeto "ValorPeixe"

Síntese

O projeto 'ValorPeixe: Valorização de Subprodutos e Águas Residuais da Indústria de Conservas de Peixe', em co promoção, tem como objetivo principal investigar e desenvolver tecnologias de valorização dos subprodutos e águas residuais gerados pelo sector das conservas de peixe, na perspetiva de introduzir melhorias significativas nos processos existentes e, assim, contribuir para o incremento da competitividade do sector industrial, cujo volume de exportações tem vindo a aumentar nos últimos anos.

Através deste projeto de I&DT, a empresa visa criar competências tecnológicas que possam contribuir para que o sector das conservas de peixe reduza a utilização de recursos, tais como a água e os combustíveis, e valorize os subprodutos das suas atividades, particularmente os óleos e gorduras e as escamas do peixe, e, consequentemente, reduza as emissões associadas à sua atividade.

Os novos produtos, serviços e soluções de valorização de subprodutos decorrentes da execução deste projeto de I&DT, contribuirão para chegar a novos clientes, quer no mercado nacional, quer no mercado internacional.

A validação das soluções desenvolvidas no âmbito deste projeto e a capacidade de poder tirar partido dos resultados da sua execução é para a POVEIRA uma oportunidade de negócio inovadora, que lhe permitirá posicionar-se como uma empresa mais "limpa" no sector das conservas e colher novas oportunidades nas vertentes dos produtos e dos serviços de maior tecnologia.

Ficha Resumo

Acrónimo:  ValorPeixe 
Título: Valorização de Subprodutos e Águas Residuais da Indústria de Conservas de Peixe

Principais Estratégias: • Redução do impacto ambiental e/ou melhoria da saúde, higiene e segurança no trabalho
• Redução do consumo de energia e de materiais por unidade produzida de bens ou serviços
• Alargamento da gama de bens ou serviços
Áreas Tecnológicas: • Tecnologias do Ambiente
• Biotecnologias
• Energia

 

Objetivos

O projeto “ValorPeixe” tem como principal objetivo desenvolver soluções reais, eficientes e exequíveis que minimizem a produção de águas residuais com elevadas cargas poluentes e de difícil tratamento, e a geração de resíduos do processamento de peixe, especialmente de sardinha, viabilizando formas de gestão mais adequadas, e, quando aplicável, a obtenção de produtos de maior valor acrescentado que possam ser reutilizados quer internamente quer noutras indústrias, como a alimentar, cosmética ou a farmacêutica.

Investigação & Desenvolvimento

As principais componentes de I&D deste projeto são:

(1) valorizar as águas residuais definindo vias para o seu tratamento e reutilização, contribuindo, assim, para uma redução do consumo de água;

(2) definir um processo de produção de biodiesel a partir de óleos e gorduras de peixe e avaliar a qualidade e o desempenho deste biocombustível;

(3) valorizar as escamas de peixe extraindo os seus constituintes principais, colagénio e hidroxiapatite, com possíveis aplicações biomédicas;

(4) extrair ácidos gordos, tipo ómega-3, a partir das frações de gordura geradas, e valorizá-los como ingrediente alimentar.

Resultados

Com a investigação, explorou-se o potencial das escamas e das espinhas de sardinha e conseguiu-se extrair destes subprodutos constituintes de elevado valor, como, colagénio, gelatina ou hidroxiapatite. Esta pode ser utilizada a nível biomédico – por exemplo na produção de implantes ósseos e próteses dentárias – ou a nível ambiental, no tratamento de águas residuais. Já a gelatina e o colagénio possuem aplicação na área cosmética e alimentar.

Das águas de cozedura e dos resíduos sólidos é possível obter extratos de ómega-3 e proteínas ou péptidos, com uma atividade biológica, nomeadamente anti-hipertensiva.

Noutras vertentes, a investigação revela ainda que é possível produzir biodiesel a partir de óleo de peixe extraído dos subprodutos e resíduos, assim como reciclar as águas residuais da indústria novamente para o seu processo, contribuindo para uma melhoria do seu desempenho ambiental.
O processo de produção de biodiesel desenvolvido realiza-se através de uma rota química em duas etapas. O combustível produzido tem potencial de utilização em caldeiras para aquecimento ou em mistura com outros tipos de biodiesel e/ou diesel em automóveis. Os ensaios num motor automóvel mostraram ligeiras perdas de potência, que podem ser corrigidas com a otimização da gestão eletrónica, e significativas reduções das emissões de diferentes poluentes.

Relativamente ao tratamento das águas residuais, foi desenvolvido um inovador sistema de tratamento que inclui um tratamento primário por decantação e coagulação/floculação química, seguido de um tratamento secundário por lamas ativadas, terminando com um tratamento de afinação por osmose inversa e desinfeção por radiação UV. O efluente tratado tem a qualidade necessária à sua reciclagem para a unidade industrial, podendo adicionalmente ser utilizado na lavagem de pavimentos, rega, entre outros.

 

Apoio do COMPETE

1. Consórcio

A Fábrica de Conservas “A Póveira”, Lda é a entidade promotora do projeto, empenhada em encontrar soluções para os seus problemas ambientais, criando maior valor para a sua atividade.
Para além da PÓVEIRA, o consórcio do projeto compreende duas entidades do sistema científico e tecnológico nacional, a FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) e a UCP-ESB (Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa), que trabalharam em diferentes linhas investigacionais, no sentido de otimizar soluções para os vários aspetos ambientais do sector, incluindo águas residuais, óleos e gorduras, escamas, entre outros.

De modo a facilitar a transferência de conhecimento e tecnologia ao sector, acerca dos avanços conseguidos sobre um problema de natureza transversal a esta Indústria, o projecto envolve duas entidades parceiras nacionais, nomeadamente, a ANICP (Associação Nacional da Indústria das Conservas de Peixe) e o IDCEM (Instituto para o Desenvolvimento do Conhecimento e Economia do Mar).

2. Sistema de Incentivos à I&DT

Inserido no Sistema de Incentivos à I&DT (Investigação e Desenvolvimento Tecnológico), o projeto “'ValorPeixe: Valorização de Subprodutos e Águas Residuais da Indústria de Conservas de Peixe” envolveu um investimento elegível de 392 mil euros, correspondendo a um incentivo FEDER de cerca de 289 mil euros.

3. Estratégias de Eficiência Colectiva

No que respeita ao Enquadramento de projetos em Estratégias de Eficiência Colectiva (EEC), o “ValorPeixe” é coerente com o programa de acção do Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar, e em particular com o do projeto-âncora “Panthalassa” - Pesca e Aquacultura - iNTegração de recursos Humanos e Apoio tecnoLógico, para a obtenção de Alimentos com Segurança e Sustentabilidade Ambiental, que inclui uma ação especificamente dedicada à identificação, caracterização e valorização de resíduos/subprodutos provenientes do processamento de pescado.

Do mesmo modo, o projeto “ValorPeixe” tem, também, enquadramento no programa de ação do Pólo de Competitividade e Tecnologia Agroindustrial: Alimentos, Saúde e Sustentabilidade, dado que se enquadra nas áreas tecnológicas e de desenvolvimento de novos produtos, processos ou sistemas, nomeadamente e em concreto, no que toca à valorização de subprodutos com vista ao desenvolvimento de novos produtos ou ingredientes alimentares.

Posicionamento da Póveira

A importância do sector de transformação e conservação de pescado em Portugal, ultrapassa, em muito, a sua expressão económica, pelas implicações sociais, culturais, de segurança alimentar e de independência nacional, entre outras. Por isso, a estratégia de desenvolvimento deste sector passa, necessariamente, pela sua sustentabilidade a longo prazo e deve ser orientada por princípios de salvaguarda do património natural e cultural, de preservação do meio ambiente e de coesão social das populações.

No que toca à sustentabilidade da empresa, a POVEIRA considera que esta assenta, em primeiro lugar, na aquisição de maior cultura técnico-científica, por via do aprofundamento dos conhecimentos científicos e técnicos, na cooperação institucional e numa forte aposta na valorização dos seus recursos humanos.

Em segundo lugar, a empresa considera necessário reforçar a sua competitividade, com base na qualidade e na valorização dos seus produtos e subprodutos, se possível através da diversificação e inovação da produção, de abordagens mais eficazes dos seus processos internos e melhorando a eficiência da sua atuação.

O investimento em atividades de I&DT que desenvolvam novas competências tecnológicas facilitadoras da entrada em novos mercados e criadoras de novos produtos competitivos, de alto valor acrescentado, é, assim, uma das principais prioridades estratégicas de negócio da empresa POVEIRA.

Esta estratégia procura, pois, harmonizar os diferentes elementos, ambientais, económicos, técnico-científicos, organizativos e sociais, com vista a assegurar a perenidade da empresa num contexto altamente concorrencial.

Numa perspetiva de longo prazo, o enfoque da POVEIRA é continuar o esforço de investimento em I&DT e inovação para os objetivos seguintes:

  • Reunir massa crítica qualificada que incentive a reflexão estratégica, geradora de parcerias com outras empresas e/ou entidades do sector científico e tecnológico e que facilite o investimento em inovação;
  • Identificar novos negócios que conduzam à criação de valor, através do fornecimento de novos produtos e soluções tecnológicas, em linha com os novos desafios e responsabilidades sociais e ambientais inerentes à dimensão da empresa na indústria das conservas;
  • Incrementar a sustentabilidade ambiental da empresa implementando um projecto de uma nova Unidade Industrial, a qual deve incorporar as soluções obtidas através da execução do projeto de I&DT agora proposto, isto é, a reciclagem (total ou parcial) do efluente como fonte de água para uso industrial (neste momento é quase exclusivamente utilizada a água da rede pública), a valorização dos resíduos e subprodutos gerados no processamento de peixe para conserva e a obtenção de maiores economias energéticas;
  • Incrementar a sustentabilidade económica através de desenvolvimento tecnológico que melhore a eficiência e o desempenho, de forma a aumentar os níveis de retorno dos activos e o seu volume de negócios;
  • Contribuir para a coesão social potenciando maior qualificação dos recursos humanos da empresa e atraindo até ela estratos etários mais jovens, oferecendo-lhes uma alternativa profissional apelativa e compensadora, não só do ponto de vista remuneratório, mas também de um ponto de vista social.

As atividades da POVEIRA em matéria de I&DT estão, pois, focadas na criação de valor para todas as partes interessadas, não somente para os seus clientes, valorizando a sua satisfação e fidelização, mas também a nível interno, no que diz respeito aos processos, procurando melhorias através da eficácia e eficiência nos procedimentos, acompanhando as melhores práticas e inovações do sector e introduzindo novas práticas e processos.

Por isso, a empresa identificou a necessidade de construir competências tecnológicas nas áreas da valorização dos subprodutos e resíduos dos seus processos, de forma a contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias ambientais sustentáveis quer na empresa, quer no sector dentro e fora do País.

Conclusão

A POVEIRA colocou em prática as tecnologias e conhecimentos desenvolvidos no projeto “ValorPeixe”, implementando-os (e transpondo-os para a sua nova Unidade Industrial), criando mais valor na sua atividade, reduzindo custos e fornecendo novos produtos e soluções, em linha com os desafios e responsabilidades social e ambiental. Além disso, pretende disseminar esses resultados no sector conserveiro nacional e internacional, procedendo à comercialização das tecnologias  com base em parcerias a estabelecer para o efeito.

Os desafios do novo modelo concorrencial em mercado global exigem uma quebra com o paradigma tradicional de melhoria incremental, e impõem a criação de novos modelos de negócio, que sejam mais robustos, assentes numa filosofia de mercado que, no caso da POVEIRA, esteja para lá da comercialização de peixe em conserva. Nesta perspetiva, a introdução de melhorias em processos existentes e/ou o fornecimento de novos produtos de valor acrescentado são um objetivo estratégico de diversificação que fortalece a competitividade das empresas.

Também, o facto de Portugal ser uma pequena economia aberta, aponta para que a dinâmica de crescimento, coesão e proteção ambiental se alicerce numa carteira de áreas económicas em que o País pode ser inovador, colecionando, assim, uma vantagem competitiva.

A identificação de novos produtos, problemas e necessidades de solução a partir da atividade de base, pode ser o primeiro passo dum percurso que, em ordem a atingir o sucesso, carece normalmente dum conjunto complexo de soluções tecnológicas, que, não estando ainda disponíveis, têm de ser alvo de estudos por parte de centros tecnológicos e de investigação com competência suficiente.

Se existir forte interação e cooperação entre a Universidade e a Indústria, assegura-se não só a excelência científica, mas também a correta apropriação e exploração económica do conhecimento gerado.

A empresa POVEIRA espera, assim, aproveitar os conhecimentos e as tecnologias desenvolvidos pelo projeto para melhorar os processos existentes e fomentar novas ideias de negócio que conduzam à criação de valor, pela criação de novos produtos e soluções, em linha com os desafios e responsabilidades social e ambiental.

Para alguns dos utilizadores/clientes das soluções identificadas pelo projeto será possível a criação de soluções integradas de elevada qualidade, permitindo a gestão e valorização dos subprodutos gerados, a poupança de água e o desenvolvimento e implementação de soluções inovadoras com benefícios ambientais, económicos e sociais.

A empresa promotora, em parceria com entidades SCT, poderá, assim, explorar novos modelos de negócio baseados em tecnologias praticamente inexistentes no mercado português com todas as vantagens inerentes do “first mover”.

Dado o carácter transversal deste projeto, que procura soluções competitivas para problemas ambientais comuns a todo o sector industrial, o “ValorPeixe” propõe-se facilitar a transferência de conhecimento e tecnologia dos resultados do projeto, contando para isso com a participação de parceiros estratégicos dentro e fora do País, nomeadamente, das Associações ANICP, IDCEM e ANFACO e da empresa ORBE, S.A., parceira de exportação do promotor.

Para conhecer mais projetos apoiados pelo COMPETE no âmbito do Sistema de Incentivos à I&DT, consulte o menu "Áreas/Incentivos às Empresas/I&DT/Projetos que Apoiamos".

Por: Cátia Silva Pinto | Núcleo de Imagem e Comunicação

Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.