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Universidade de Coimbra retrata expedições botânicas iniciadas no século XVIII

22.04.2014
  • Ciência e Conhecimento , Compete

Foi este o mote do projeto "No trilho dos naturalistas", que originou a produção de quatro documentários sobre as expedições realizadas em Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe que partiram da Universidade de Coimbra.

Teaser do documentário “No trilho dos naturalistas | São Tomé e Príncipe"


Projeto "No trilho dos naturalistas"

1. Apoio do COMPETE

Segundo o investigador responsável, António Gouveia, biólogo do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e coordenador científico “o apoio do COMPETE foi essencial para a realização dos quatro documentários sobre a diversidade e a ecologia das plantas em Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, porque permitiu viabilizar um plano de produção ambicioso, logisticamente complexo e dispendioso, que incluiu viagens aos países retratados, para filmagens no terreno, e a deslocação de equipas multidisciplinares. A nível pessoal, esta aposta do COMPETE e da Ciência Viva deu-me a oportunidade de ganhar experiência e consolidar os meus conhecimentos em comunicação de ciência, num projeto que espero que cause um impacto importante na divulgação da biodiversidade tropical e contribua para a transferência de conhecimento quer em Portugal, quer nos países africanos de língua portuguesa.”

O projeto “No trilho dos naturalistas” – que envolveu a produção de uma série de documentários sobre a diversidade e a ecologia das plantas tropicais, tendo como ponto de partida as explorações botânicas da Universidade de Coimbra a África, do século XVIII ao século XX - foi apoiado pelo COMPETE (Programa Operacional Fatores de Competitividade) na sua componente FEDER e pelo orçamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, na sua componente orçamento de estado.

Trata-se de um projeto no âmbito do SAESCTN (Sistema de Apoio a Entidades do Sistema Científico e Tecnológico), que envolveu um investimento elegível de cerca de 546 mil euros, correspondendo a um incentivo FEDER de 464 mil euros.


2. Síntese

Uma parte da história à volta destas viagens científicas estava, de certa forma, escondida do grande público, em gabinetes e armários do antigo Departamento de Botânica. Existia uma riqueza documental enorme e desde 2005 que a documentação tem vindo a ser organizada e disponibilizada através de uma biblioteca digital.

A partir daí surgiu a ideia de mostrar, numa série de documentários, as expedições dos naturalistas da Universidade de Coimbra.

O botânico Jorge Paiva, professor e investigador reformado da Universidade de Coimbra, serviu de guia nos quatro documentários que foram produzidos até 2013, sobre as missões botânicas da universidade em África. Teve a oportunidade de conduzir as histórias, percorrendo parte dos trajetos que outros naturalistas fizeram em 1885, em São Tomé, e nos anos 1920-30, em Angola.

Pretendeu-se que não fosse algo académico, mas alargado ao grande público, segundo explica António Gouveia, o coordenador do projeto.

No Trilho dos Naturalistas

Os documentários ficaram a cargo da produtora Terratreme, sendo que estiveram à frente dos filmes não um mas cinco realizadores; o que acrescentou uma maior riqueza ao projeto.

Os documentários - realizados por Susana Nobre (“CViagens Filosóficas”); Luísa Homem e Tiago Hespanha (São Tomé e Príncipe); João Nicolau (Moçambique); e André Godinho (Angola) - permitiram à Universidade de Coimbra realçar o que de importante resultou para o conhecimento da diversidade das plantas das expedições botânicas às ex-colónias, do século XVIII ao século XX, e que importa difundir.


3. Objetivos

  • Valorizar e produzir conteúdos científicos sobre a botânica portuguesa, principalmente na sua vertente aplicada aos estudos nas antigas colónias portuguesas
  • Analisar as missões botânicas e os seus principais impulsionadores - a Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe - e a sua atualidade para o conhecimento e estudo da biodiversidade e impacto na economia destes países africanos
  • Mostrar a biodiversidade e riqueza natural de ecossistemas africanos utilizando um género documental com pouca tradição em Portugal: viagens no terreno guiado por um cicerone/naturalista, dirigido ao público em geral
  • Estabelecer as bases para o desenvolvimento de uma plataforma de transferência de conhecimento entre o Centro de Ecologia Funcional e os estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, alicerçada na difusão e interesse suscitados pelos produtos do projeto.

4. Tarefas

As principais tarefas desempenhadas durante o projeto foram:

  • Tratamento e análise de documentos históricos de natureza diversa (textos, monografias, missivas, cartografia, fotografias e registos fílmicos)
  • Síntese de informação para elaboração dos conteúdos científicos dos documentários
  • Redação de argumentos/guiões para a produção de quatro documentários
  • Produção e realização de quatro documentários
  • Produção de conteúdos para a publicação no blogue informativo de acompanhamento do projeto
  • Divulgação dos produtos do projeto na comunicação social, bem como no circuito de festivais e mostras de cinema documental  

5. Conteúdos científicos

A série documental abrange quatro documentários que contam a história da botânica em Portugal, principalmente na sua ligação às antigas colónias em África.

Os conteúdos científicos comuns aos documentários são os seguintes:

  • Abordagem cronológica e enquadramento histórico das explorações botânicas às ex-colónias e os seus principais atores – conhecimento científico e interesse económico na exploração dos recursos naturais;
  • Retraçar parte dos percursos das mais importantes missões científicas tendo como cicerone o investigador e naturalista Jorge Paiva, com ênfase no conhecimento e conservação da enorme biodiversidade de cada um dos países visitados;
  • Retratar os ecossistemas naturais tropicais, e realçar a diversidade e ecologia de espécies vegetais;
  • Avaliar a importância do que resultou destas expedições para o conhecimento científico e, em particular, da botânica, nos países africanos e em Portugal, passado e presente e impulsionar a transferência deste conhecimento.

6. Documentários

Em seguida apresenta-se um resumo dos conteúdos de cada documentário.

1. No Trilho Dos Naturalistas – Viagens Philosophicas

Neste primeiro documentário é dado o enquadramento histórico do desenvolvimento da ciência botânica em Portugal e na Universidade de Coimbra, cruzando a história dos espaços, coleções e pessoas da própria universidade e de conceitos fundamentais do ciclo de vida das plantas, da semente ao fruto.

As viagens filosóficas dão o mote para o arranque da série. Realizadas em finais do século XVIII, tinham como objetivo realizar o estudo organizado e sistemático da história natural das então possessões ultramarinas. Com o apoio da coroa portuguesa, diversos discípulos de Domingos Vandelli, participaram nas ditas explorações: Alexandre Rodrigues Ferreira no Brasil, Manuel Galvão da Silva, em Angola; Joaquim José da Silva, em Goa e Moçambique; e João da Silva Feijó em Cabo Verde.

 

2. No Trilho Dos Naturalistas – São Tomé e Príncipe
Seguindo a viagem de Adolfo Frederico Möller a São Tomé, em 1885, este documentário mostra a enorme diversidade vegetal e os ecossistemas naturais da ilha de São Tomé.

Em 1866, Júlio Henriques tornou-se professor da Universidade de Coimbra e retomou o empenho desta universidade no conhecimento e exploração das antigas colónias africanas. Foi um cientista com múltiplos interesses e grande dinamizador da botânica em Portugal, incluindo na sua vertente aplicada. Por exemplo, trabalhou na seleção das espécies produtoras de quina, utilizada na prevenção da malária. Estabeleceu uma extensa rede de contactos, nacionais e internacionais, e transformou o Jardim Botânico de Coimbra num importante centro de aclimatação de plantas. Em 1885, enviou o seu jardineiro chefe a São Tomé, para realizar a exploração botânica da ilha, na altura, praticamente desconhecida do ponto de vista científico.

A ilha de S. Tomé é extremamente montanhosa, o que cria interessantes gradientes da vegetação em altitude. Subimos ao ponto mais alto da ilha, o Pico de São Tomé, com 2024m. Em cima da linha imaginária do Equador, entrámos na floresta tropical de chuva, com a sua flora vascular rica em endemismos, isto é, plantas que só ocorrem num determinado local, e exploramos a sua dinâmica ecológica.

 

3. No Trilho Dos Naturalistas – Angola 
Retraçando parte do percurso das missões científicas de Luís Carrisso a Angola, efetuou-se uma exploração da grande diversidade vegetal e dos ecossistemas naturais, desde a floresta tropical húmida, no Golungo Alto, ao deserto de Namibe. Aqui, num dos mais antigos desertos do mundo, explorou-se a ecologia da vegetação semidesértica, incluído a peculiar Welwitschia mirabilis.

Nas 3 missões que realizou a Angola (1927, 1929 e 1937), Carrisso percorreu mais de 30.000 km, explorações que resultaram num importante contributo para o Herbário da Universidade de Coimbra e para a publicação da obra Conspectus Flora Angolensis. Nestas expedições, Luís Carrisso produziu ainda um importante espólio fotográfico e fílmico. 

 

 4. No Trilho Dos Naturalistas – Moçambique
Este documentário revisita a primeira investida científica no terreno de Jorge Paiva, que esteve em Moçambique em 1963, no âmbito da elaboração da Flora Zambesiaca.

Na região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, explorámos as florestas de mangal, as adaptações das suas plantas e o seu funcionamento. Na província de Nampula, atravessámos o arquipélago de inselbergs (montes-ilha), formações geológicas muito antigas que albergam um elevado número de espécies endémicas. Explorámos ainda o funcionamento ecológico das grandes extensões de miombo, uma floresta aberta das regiões tropicais africanas.

O filme destaca ainda um número considerável de cientistas e exploradores botânicos que estudaram Moçambique, desde o século XVIII. 



7. A equipa

• Científica

  • António Carmo Gouveia [coordenação do projeto]
  • Helena Freitas
  • Jorge Paiva
  • Maria Teresa Gonçalves
  • Fátima Sales
  • Estrela Figueiredo
  • António Xavier Pereira Coutinho
  • Rita Alcaire

• Produtora

  • Terratreme Filmes

• Realizadores

  • Susana Nobre
  • João Nicolau
  • André Godinho
  • Luísa Homem
  • Tiago Hespanha

• Direção de Fotografia

  • Pedro Pinho

• Direção de Produção

  • Marta Lança
  • João Matos


8. Parceria com os Media

- Televisão

Os documentários têm uma duração individual aproximada de 55 minutos e serão transmitidos na:

  • RTP2,
  • RTP África,
  • e RTP Internacional.

A emissão da série documental está agendada para a nova grelha da RTP2, a partir de Setembro.

- Imprensa Escrita

A série de quatro documentários tem sido objeto de conteúdo noticioso no jornal público, quer na edição impressa, quer na edição digital.

Uma equipa constituída por um jornalista e um fotógrafo acompanhou, no terreno, as filmagens do documentário de São Tomé e Príncipe, que resultou numa série de reportagens de fundo na edição impressa.

Ao todo foram publicados 6 artigos, mas está ainda prevista a publicação de outras peças.

- Plataformas Online

Foi elaborado um blogue informativo, alojado e com referenciação no portal do Público na internet. Nele constam conteúdos científicos sobre a história da botânica, biodiversidade e conservação, recursos naturais e ciência colonial, entre outros. Os materiais incluídos são na forma de texto, imagem, fotografia e vídeo.

9. Conclusão

A história da Botânica na Universidade de Coimbra integra alguns dos maiores vultos desta ciência em Portugal, os quais cultivaram importantes e vastas relações nacionais e internacionais. O desenvolvimento desta disciplina científica permite-nos também acompanhar a história do nosso país do século XVIII ao século XX, no que se refere ao estudo das ciências naturais nas ex-colónias portuguesas.

A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra tem procurado promover a valorização deste património científico e cultural, organizando e tratando parte dos documentos.
A divulgação e estudo deste importante espólio é uma tarefa que se quer permanente, uma vez que, para além de se pretender continuar a digitalizar e organizar o espólio documental, interessa acrescentar uma dimensão de análise e integração da informação existente e promover a sua valorização e divulgação em iniciativas de âmbito nacional e internacional.

É neste contexto que o projeto se inseriu, alcançando um público mais alargado e diversificado, com a produção de quatro documentários que explicitam e evidenciam uma faceta pouco estudada e ainda menos difundida: as expedições empreendidas por cientistas portugueses para estudar a história natural de alguns países africanos de língua portuguesa.

Apesar destes tipo de expedições e empreendimentos científicos terem terminado, na sua maioria, nos anos 60 do século XX, a ligação da botânica portuguesa ao estudo e conhecimento da flora africana continua a ser uma realidade importante e essencial no desenvolvimento desta disciplina científica.

Nesse sentido, a faculdade conta ainda com um importante património humano e do conhecimento da flora africana, Jorge Paiva, investigador desde o final dos anos 50 e ainda hoje com uma intensa atividade de divulgador da ciência e de intervenção cívica.

A junção destas duas dimensões históricas, documental e oral, afigurou-se a oportunidade ideal para repensar, quer o desenvolvimento da Botânica em Portugal, quer a faceta “colonial” desta ciência e o papel que desempenhou para o conhecimento científico e desenvolvimento económico das ex-colónias portuguesas em África.

Desta forma, o projeto “No trilho dos naturalistas” pretendeu dar a conhecer a diversidade e a ecologia das plantas tropicais, retraçando o desenvolvimento da Botânica em Portugal e o percurso de algumas das expedições botânicas mais significativas em Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com ligações à Universidade de Coimbra.

A escolha destes três países prende-se com a dimensão científica que este tipo de viagens tomou nestas regiões, bem como à qualidade da documentação disponível sobre a sua história, que integra textos, monografias, missivas, cartografia, fotografias e registos fílmicos.

10. Links

Por: Cátia Silva Pinto | Núcleo de Comunicação e Imagem

Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

Para conhecer outros projetos apoiados pelo COMPETE no âmbito do SAESCTN - Sistema de Apoio a Entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, consulte o menu Áreas/Os Projetos que Apoiamos.